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Vendas no varejo têm retração pelo terceiro mês consecutivo

Setor teve queda de 0,4% em abril. Índice marcou o maior recuo para o mês desde 2003, segundo o IBGE

As vendas no varejo do Brasil recuaram 0,4% em abril sobre o mês anterior, em um resultado inesperado que marca o terceiro mês seguido de queda e o pior resultado para o mês em 12 anos, refletindo a fraqueza que vem abatendo a economia do país.

Na comparação com o mesmo mês de 2014, as vendas varejistas caíram 3,5 %, informou o Instituto Brasileiro de Geografia a Estatística (IBGE) nesta terça-feira.

Em ambas as comparações, os resultados foram os mais fracos para um mês de abril desde 2003, quando as vendas no varejo também caíram 0,4% na comparação mensal e recuaram 3,7% em base anual. Aquele ano também foi o último em que o varejo registrou três meses seguidos de quedas nas vendas na comparação mensal.

As leituras também foram bem piores do que a mediana das expectativas em pesquisa da Reuters, que apontavam alta de 0,60% na comparação mensal e queda de 1,75% sobre um ano antes.

"O comércio reflete a dificuldade da economia. Preços altos, economia lenta, renda menor e fatores conjunturais menos favoráveis", destacou a coordenadora da pesquisa no IBGE, Juliana Paiva.

O IBGE ainda revisou a leitura de março sobre fevereiro para mostrar recuo de 1,0% contra queda de 0,9% divulgada antes. E também piorou o número de março sobre o mesmo mês do ano anterior para alta de 0,3% contra 0,4% divulgado anteriormente.

Em 2015 até abril, as vendas já acumulam queda de 1,5% e seguem no caminho de repetir 2003, última vez em que o ano fechou com recuo nas vendas, de 3,7%.

"Claramente não é um ano favorável ao comércio. O consumo no Brasil diminuiu bastante com os fatores conjunturais desfavoráveis acompanhado de incertezas tanto da parte de empresas quanto de consumidores", completou Juliana.

SUPERMERCADOS

De acordo com o IBGE, seis das oito atividades pesquisadas no varejo restrito tiveram queda mensal no volume de vendas em abril.

Essa disseminação de resultados ruins, destacou o economista sênior do Banco Besi, Flávio Serrano, compensou a alta de 1,9% sobre março nas vendas de hipermercados, supermercados, produtos alimentícios, bebidas e fumo, importante termômetro do varejo.

"A queda generalizada dos demais segmentos foi capaz de compensar o bom desempenho dos supermercados, que aconteceu por causa da descompressão do IPCA", disse ele, lembrando que a inflação oficial em abril desacelerou a 0,71%, ficando pela primeira vez no ano abaixo de 1%, embora tenha ido a 0,74% em maio.

Entre as quedas nas vendas, destacaram-se a de 12,2% em equipamentos e material para escritório, informática e comunicação e de 5,1% em outros artigos de uso pessoal e doméstico.

A receita nominal do varejo restrito avançou 0,3% sobre março e teve alta de 2,5% ante abril de 2014.

Já no varejo ampliado, que inclui veículos e material de construção, o volume de vendas recuou 0,3% em abril na comparação com março, com queda de 1,2% de materiais de construção.

Embora as vendas de veículos e motos, partes e peças tenham subido 4,4% sobre março, Serrano destacou que este é um resultado pontual.

"Dá para ter muito convicção de que isso será corrigido no mês que vem. É um deslocamento pontual do padrão de vendas de veículos, não é sinal de reversão", disse ele, lembrando que os números da Fenabrave, associação que representa os concessionários de veículos, mostraram queda das vendas de veículos novos em abril e maio.

O setor varejista brasileiro vem refletindo a perda de força da economia, especialmente diante do aumento do desemprego, em meio à inflação alta e deterioração da confiança do consumidor.

Também pesa a atual política monetária, com sucessivas elevações na taxa básica de juros --hoje em 13,75% -- que acabam encarecendo o crédito aos consumidores.

Com a indústria também sem perspectivas de melhora em breve, economistas projetam na pesquisa Focus do Banco Central contração econômica neste ano de 1,35%.